domingo, 26 de outubro de 2014

Miles Davis - Young Man With a Horn


Young Man With a Horn é um disco gravado por Miles Davis pela Blue Note Label em 1952 (o único disco gravado por ele oficialmente neste ano), o primeiro dos 3 discos de 10 polegadas gravados dele com o selo da Blue Note.
O disco conta com Miles Davis no trompete, Jay Jay Johnson no Trombone, Jackie McLean no Sax Alto, Gil Coggins no piano, Oscar Pettiford no baixo e Kenny Clarke na bateria.
Pode-se dizer que é um disco que ajudou a colocar cimento na muralha que constituiu a carreira de Miles Davis, tanto que este disco foi sendo relançado em diversos formatos, ao longo dos anos, desde então. Temos a regravação dele em 1956 em Lps de 12 polegadas, feito de forma comemorativa, depois que Miles foi eleito melhor trompetista pela Down Beat, revista americana (de Chicago) dedicada a Jazz. Temos também o lançamento pela Vogue Records na França e na Espanha e a reedição em 1999 em sua forma original (LP de 10 polegadas) no Japão pela Toshiba-EMI.
Podemos ter certeza que esse disco será relançado mais e mais vezes angariando mais e mais apreciadores.
É um disco agradabilíssimo, a primeira vez que eu ouvi passei uma tarde inteira ouvindo-o repetidas vezes, sem enjoar.
As peças tocadas são "Dear Old Stockholm", originalmente uma canção folk sueca que também já foi gravada por Stan Getz, Paul Chambers e John Coltrane. Em seguida temos "Woody 'n' You", uma canção original do trompetista Dizzy Gillespie escrita em homenagem ao seu colega Woody Herman. "Yesterdays" (que também está presente na coletânea Ballads and Blues) encerra o lado A do disco, uma canção de 1933 composta por Jerome Kern, originalmente com letra de Otto Harbach (obviamente temos aqui uma versão instrumental). Indo ao Lado B temos "Chance it", também conhecida pelo nome "Max Is Making Wax" de Oscar Pettiford e creditada a Miles Davis. "Donna", também conhecida como "Dig", composta por Miles Davis e, finalmente, "How Deep is the Ocean" (também presente em Ballads and Blues) de Irving Berlin, compositor russo-judeu naturalizado estadunidense, dono de diversas peças musicais importantes na história da música americana.
Todas as peças tocadas neste disco foram inicialmente emitidos como Singles, exceto "How Deep is the Ocean".
Mais um disco que mostra por que Miles Davis é Miles Davis.


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

The New Sounds - Miles Davis


New Sounds é um disco lançado por Miles Davis em 1951.
Esse disco particularmente representa uma pequena fase tumultuada para Miles. O trompetista teria ficado desapontado com sua gravadora anterior, a Capitol Records, que, depois das vendas das gravações feitas entre 1949 e 1950, não tinha oferecido nada de novo ao incansável Miles.
Em uma apresentação feita em Chicago junto com ninguém menos que Billie Holiday, Miles consegue um acordo comercial com a Prestige Records, uma gravadora nova (que tinha começado com o nome de "New Jazz"),  fundada em 1949 por Bob Weinstock e que iria escrever seu nome futuramente na história da música dando voz a gente do nível de John Coltrane, Sonny Rollins, Thelonious Monk e, lógico, o próprio Miles Davis.
A parceria com a Prestige Records iria durar mais ou menos 5 anos até Miles assinar um contrato com a Columbia Records em 1955.
New Sounds, lançado nesse período, foi gravado com Art Blakey na bateria, Tommy Potter no contrabaixo, Walter Bishop Jr. no Piano, Sonny Rollins no Sax Tenor, Jackie McLean no Sax Alto e, óbvio, Miles Davis no trompete
Participaram também do disco Charlie Parker e Charles Mingus fazendo cada um uma parte na música Conception (eles não foram creditados), Parker no Sax Tenor e Mingus no baixo.
Durante a gravação conta-se que Charlie Parker assistia a tudo, especialmente as execuções do seu companheiro de instrumento, Jackie McLean. A constante presença dele chegou a intimidar o saxofonista fazendo com que ele dissesse irritado a todos que seria a primeira e última vez que ele gravaria com o grupo.
Entre um estresse e outro o disco sai, em Outubro de 1951, com 4 músicas.
O disco começa com músicas que não deixam brechas para fôlego, Conception (composição de George Shearing) e Dig (de Miles Davis). Nessas musicas se destaca a performance do baterista Art Blakey.
Depois de duas músicas bem agitadas temos uma mais lenta, My Old Flame (composição de Sam Coslow e Arthur Johnston) e termina com It's Only A Paper Moon, uma canção popular escrita por Harold Arlen, em 1933, com letra de EY Harburg e Billy Rose. A versão desse disco é uma versão instrumental.
Embora possa ser considerado um trabalho menor e muito pouco comentado trata-se de um material pesado e, com certeza, de qualidade.

domingo, 12 de outubro de 2014

Birth of the Cool - Miles Davis


Birth of the Cool (comprar o disco) é um disco que reúne algumas músicas do Miles Davis num período que vai do final da década de 40 até metade da década de 50.
O disco tem uma dialética musical interessante, trabalhando com contrastes agradáveis, caminhando entre levadas mais suingadas suaves, não histriônicas e momentos melancólicos de altíssimo nível.
Muitos tem esse disco como o nascimento oficial do chamado "cool Jazz" (Birth of the Cool é um nome muito sugestivo para isso inclusive).


Miles Davis e Gil Evans

Não podemos ser levianos e creditar todo o nascimento dessa obra apenas a Miles Davis desconsiderando a crucial importância de Gil Evans que, em meados da década de 40, atuou como conselheiro para um grupo de músicos que se reuniam em seu pequeno apartamento em Nova York acima de uma lavanderia chinesa e que foi crucial para a gênese deste disco.
Miles Davis esta época buscava talentos para compor seu pequeno e alternativo grupo de músicos de Jazz. Em 1947 ele conseguiu reunir uma turma, formando a Miles Davis-Capitol Orchestra que, rapidamente, partiu para ensaios e experimentos que começaram a ser realizados no ano seguinte.

O caminho de Miles e Gil Evans se cruzaram e o destino foi generoso com todos nós.

Como dito no blog de  Djacir Dantas, Gil era uma figura extravagante: alto, magro, um dos primeiros brancos a frequentar as sessões de bebop, onde se sentava em um canto, atento, e de vez em quando mordiscando uma rodela de cenoura com sal.
O primeiro contato que Evans teve com Miles Davis foi para achar um interprete para uma de suas composições, “Donna Lee”. O trompetista cedeu, mas disse que, em contrapartida, queria uma cópia do arranjo da banda de Thornhill para a música “Robin’s Nest”. Ele queria estudá-lo. Na conversa que se seguiu, as afinidades musicais afloraram.

A partir daí, Miles passou a frequentar o apartamento de Gil Evans. Localizado na rua 55, bem perto da 52, onde se concentravam as casas de jazz, o pequeno apartamento era um ponto de encontro de jazzistas. Dizzy Gilespie, Charlie Parker, Gerry Mulligan, Max Roach, Lee Konitz, John Lewis, George Russell, John Carisi e Blossom Dearie eram outros visitantes assíduos.

Temos ai a gestação de Birth of the Cool, Evans como arranjador e compositor de algumas músicas, deu todas as condições e suporte para a expressividade de Miles.

Visão geral do disco

Temos um interessante efeito de melodias ágeis e velozes e ao mesmo tempo uma atmosfera relaxante. A concisão dos arranjos de Evans levava o grupo a soar como se estivesse um número menor de integrantes. Essa concisão já aparece em Move, na ótima Jeru (composição de Gerry Mulligan, com um ótimo solo de Miles).
Moon Dreams é o destaque do disco pra mim, uma lindíssima balada feita com seriedade erudita e andamento arrastado.
Venus de Milo volta ao suingue dos dois primeiros temas, seguida de Budo, com sua ótima levada de bateria, Deception, Godchild, Boplicity (creditada a mãe do próprio Miles), Rocker, Israel e Rouge (esta com uma belíssima textura de piano) e terminando com Darn that Dream, a única faixa que você encontra vocais, de Kenny Haggood.
A parceria de Miles Davis, seu noneto e a inegável contribuição de Gil Evans fez desse disco o que ele é hoje, um clássico absoluto e inquestionável.

Moon Dreams:


Darn that Dream




domingo, 5 de outubro de 2014

Sings Big Bill Broonzy - Muddy Waters

Antes de falar do disco "Sing Big Bill Broonzy" é necessário dizer quem é "Big Bill Bronzy".
Bill Broonzy é ninguém menos que William Lee Conley Broonzy, um profílico cantor, compositor e guitarrista de blues norte-americano.
Bill Broonzy tem aquelas histórias clássicas de um garoto negro que saiu do Mississipi e foi tentar a vida em outra cidade. Em 1924 ele deixa a famosa cidade de onde saíram diversos "bluesmen" e vai para Chicago onde aprende tocar guitarra com uma figura chamada Papa Charlie Jackson.
Desde os seus primeiros acordes sua carreira cresceu até atingir seu auge em 1939 na Vocalion Records e em 1945 pela Columbia Records.
Entre suas músicas mais famosas e mais reproduzidas estão "Key to the Highway".
Também nessa época ele tocava em bares do lado sul dos EUA, saiu em turnê com Memphis Minnie durante a década de 30 e excursionou pela Europa no início de 1956.
Em 1938 ele tocou no festival John Hammond's "From Spirituals To Swing", no lugar de Robert Johnson, que havia morrido pouco tempo antes da realização do show.

O estilo de Bronzy leva influencias de Folk, Spirituals, a canção de trabalho, ragtime, Hokum e Country Blues. Ele combina todas essas influências em seu próprio estilo e antecipa o que conheceríamos como "Chicago Blues", popularizado por artistas como Willie Dixon e Muddy Waters

Muddy Waters - Sings Big Bill Broonzy

Sings Big Bill Broonzy é o primeiro disco de estúdio de Muddy Waters. O disco é todo composto com material de Big Bill Broonzy com uma roupagem especial, eletrizado à moda Waters, transpirando a personalidade do típico Blues de Chicago.
Ele foi gravado dois anos depois da morte de Big Bill como uma homenagem. As músicas escolhidas foram Tell Me Baby, Southbound Train, When I Get to Thinking, Just a Dream (On My Mind), Double Trouble, I Feel So Good, I Done Got Wise, Mopper's Blues, Lonesone Road Blues e Hey, Hey.
Todo disco é permeado pela guitarra elétrica de Pat Hare, a voz rasgada de Muddy Waters, uma excelente camada de piano executado por Otis Spann , um interessante acompanhamento de gaita por James Cottom, entre outros músicos que ajudaram a enriquecer o material.
É um excelente disco, sua proposta foi distanciar um pouco o cheiro da poeira do Mississipi presente no som original de Big Bill e se apresentar nas maravilhas tecnológicas e energizantes de uma metrópole como Chicago. Esse disco prova que nessas correntes elétricas, em meios a joules e ampères existe uma coisa chamada "alma" e isso nenhuma tecnologia é capaz de substituir.

Ballads and Blues - Miles Davis

Ballad and Blues é uma coletânea criada pelo produtor Michael Cuscuna que resgatou algumas peças de origem de Miles Davis com músicas selecionadas da fase mais Bluesy e Jazz Modal e que deram origem ao estilo de discos cravados na história da música como Birth of Cool e Kind of Blue.
Não sou especialista em música (sinceramente não faço a menor ideia do que seja um Jazz Modal, pra mim isso é papo de músico) mas, olhando os comentários do disco, eu me interessei mais pela atmosfera que o disco criou nas pessoas. Alguns comentaram que o disco é perfeito para um jantar romântico, outro enfatizaram que é um disco sexy, ótimo para o sexo, outros apenas que é um sensacional disco para música de fundo.
O disco é de fato agradabilíssimo. As peças escolhidas foram I Waited for You, Yesterday, One for Daddy, Moon Dreams, How Deep is the Oceam, Weirdo, Enigma, It Never Entered My Mind e Autum Leaves.
A suavidade das músicas podem agradar qualquer pessoa, este disco é excelente para qualquer um que queira se iniciar no Jazz.