sábado, 22 de agosto de 2015

Money Jungle (Duke Ellignton, Charles Mingus e Max Roach, 1963)



Money Jungle é um disco do grande pianista Duke Ellington com o baixista Charles Mingus e o baterista Max Roach.

Foi gravado em 17 de Setembro de 1962 e lançado em Fevereiro de 1963 pela United Artists Jazz.

Logo depois do lançamento o disco foi soterrado por boas críticas na época e as únicas poucas críticas negativas giravam em torno da diferença de estilo entre os 3 cavaleiros, muito justificada pelo conflito de geração que havia entre eles. Duke Ellington tinha 63 anos na época enquanto Mingus tinha 40 e Roach 38 anos, um hiato de 20 anos de diferença.

Problemas geracionais à parte, o qual não é nenhum demérito - as poucas críticas negativas estavam notavelmente erradas, milhares de músicos foram influenciados por esse disco, particularmente pela ideia de liberdade de expressão individual que permeava o disco, muito pela ideia do Post-Bop, uma subcategoria do Jazz que foi popular nos anos 60. O Post-Bop é, segundo o musicólogo Jeremy Yudkin, algo entre o Bop e o new Jazz e se caracteriza pela maior liberdade e certa independência rítima entre os músicos durante as sessões.

Entre os músicos que foram influenciados pelo disco temos Lafayette Gilchrist, Jeff "Tain" Watts, Keith Jarrett, Wayne Shorter, Fred Hersch, Matthew Shipp e John Medeski. Músicos de diferentes matizes.

O disco foi premiado na categoria Top Swinging Discs da Jazz Magazine of France em 4 de Abril de 1964. Recebeu 5 estrelas na revista Down Beat de Março de 1963 e críticas altamente positivas na Billboard em 9 de Fevereiro de 1963. A The Penguin Guide to Jazz, uma enciclopédica obra de referência especializada em Jazz, compilada por Richard Cook e Brian Morton, faz grandes elogios ao disco, especialemnte a Charles Mingus que, segundo o guia, "rouba o show".

A ideia do disco partiu de Duke Ellington, que queria fazer um disco com base de piano. Essa ideia foi desenvolvida junto ao produtor da United Artists, Alan Douglas, o qual recebeu uma visita do próprio Ellington em sua casa.
A entrada de Charles Mingus no disco é sugestão de Alan Douglas e Max Roach veio por indicação de Mingus.
Antes disso os músicos não tinham trabalhado em nada juntos. Mingus apenas tocou em uma orquestra de Ellington em 1953, substituindo o baixista oficial. No entanto, Mingus acaba ficando apenas 4 dias junto a orquestra. Mingus, de temperamento forte, acaba brigando com outro músico, o trombonista Juan Tizol e sendo expulso.
Apesar de não tocarem juntos antes o compromisso dos músicos com o trabalho se revela em alguns relatos interessantes. As gravações começaram em uma Segunda-Feira, dia 17 de Setembro de 1962, na Sound Makers em Nova York. A sessão estava marcada para as 13:00. Max Roach chega ao local 12:00 para preparar sua batria e encontra Ellington escrevendo o material.
Há rumores persistentes de confrontos entre os músicos durante a sessão. Especialmente entre Mingus e o baterista Max Roach (que ele mesmo tinha indicado). Conta-se que Mingus uma vez deixou o estúdio no meio da sessão e foi para rua, nervoso, carregando seu baixo. Duke Ellington saiu atrás dele e convenceu-o a retornar.

O disco original tem 7 faixas, 6 compostas por Duke Ellington e uma, Caravan, composta por Juan Tizol (o mesmo que Charles tinha brigado).

A ordem das músicas no disco original e depois nas versões em CD são diferentes.

Seguindo a ordem do disco temos a música Money Jungle como primeira faixa.

Segundo o crítico Thomas Cunnife é importante ouvir as faixas desse disco na ordem em que foram gravadas pois, segundo ele, você consegue ouvir a "tensão sendo construída" entre os músicos, gradativamente. O caso em que Mingus deixa o set acontece, provavelmente, depois dele tocar Money Jungle, que "representa o ápice da tensão interna do grupo, com Mingus arrancando as cordas com as unhas".
Money Jungle abre com fortes notas tocadas por Mingus, enquanto Ellington se junta aos acordes dissonantes. Roach sustenta a música usando os pratos de condução, a caixa e o bumbo. Nos minutos finais da música, a revista Down Beat fez uma observação interessante sobre Mingus, dizendo que ele ataca as cordas com tanta força que faz o som do instrumento parecer algo entre um berimbau e uma guitarra.
Na segunda música, Fleurette Africaine, Charles Mingus impressiona. É uma balada com uma bela base simples de piano, uma percurssão bastante discreta de Roach e uma linha de baixo que parece imitar o bater de asas de uma vespa.
Very Special, a terceira música do disco (e a primeira nas versões em CD), é um Blues improvisado.
Essas três músicas, juntamente com Wing Wise, foram compostas especialmente para o disco.
Em Caravan, música de Juan Tizon, vemos que Ellington toca de uma forma a imitar um som mais orquestral, segundo pesquisas pessoais, utilizando um estilo "Anton Webern" e tocando a melodia em oitavas mais baixas e graves.
Warm Valley e Solitude são baladas onde podemos notar toda química dos músicos concentrados em sua singularidade.

As versões em CD tem mais quatro composições: Switch Blade, Backward Country Boy Blues, REM Blues e A Litlle Max (Parfait); essa última se destaca bastante o baterista Max Roach, que traz uma influência latina interessante na música, enquanto que Switch Blade é um Blues que mostra toda virtuose de Mingus.
Backward Country Boy Blues e REM Blues mostram mais o que os três mosqueteiros podem fazer juntos e Ellington se destaca bastante nelas.

Money Jungle é um disco marcado por caos, tensão e o conflito entre três indivíduos que dissonavam tanto em idade quanto em gênio. Mas que, por algum motivo mágico, acabaram encontrando uma química interna e produzindo um dos discos mais interessantes do Jazz. Nota 10.

Dá para ouvir o disco inteiro aqui:


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A Great Day in Harlem - A foto mais icônica da história do Jazz

A Great Day in Harlem ou Harlem 1958 é um retrato em preto e branco de 57 notáveis ​músicos ​do jazz fotografados na frente de um triplex em Harlem, em Nova York. A foto tem-se mantido um objeto importante no estudo da história do jazz.

Art Kane, um fotógrafo freelance que trabalhava para a Esquire Magazine, tirou a foto em torno 10:00 em 12 de agosto, no verão de 1958. Os músicos se reuniram na 17 East 126th Street, entre a Fifth e Madison Avenues em Harlem.

A Esquire Magazine publicou a foto em sua edição de Janeiro de 1959.

Jean Bach , produtor de rádio de Nova York, contou a história por trás dessa foto em seu documentário de "A Great Day in Harlem", lançado em 1994. O filme foi indicado em 1995 para um Oscar de documentário .

A partir de janeiro 2015, apenas dois dos 57 músicos que participaram ainda estão vivos (Benny Golson e Sonny Rollins).



Presentes na foto: Red Allen, Buster Bailey, Count Basie, Emmett Berry, Art Blakey, Lawrence Brown, Scoville Browne, Buck Clayton, Bill Crump, Vic Dickenson, Roy Eldridge, Art Farmer, Bud Freeman, Dizzy Gillespie, Tyree Glenn, Benny Golson, Sonny Greer, Johnny Griffin, Gigi Gryce ,Coleman Hawkins, J.C. Heard, Jay C. Higginbotham, Milt Hinton, Chubby Jackson, Hilton Jefferson, Osie Johnson, Hank Jones, Jo Jones, Jimmy Jones, Taft Jordan, Max Kaminsky, Gene Krupa, Eddie Locke,Marian McPartland, Charles Mingus, Miff Mole, Thelonious Monk, Gerry Mulligan, Oscar Pettiford, Rudy Powell, Luckey Roberts, Sonny Rollins, Jimmy Rushing, Pee Wee Russell, Sahib Shihab, Horace Silver, Zutty Singleton, Stuff Smith, Rex Stewart, Maxine Sullivan,Joe Thomas, Wilbur Ware, Dickie Wells, George Wettling, Ernie Wilkins, Mary Lou Williams e Lester Young

domingo, 9 de agosto de 2015

Uma pausa para falar do filme Whiplash


Farei uma pausa para comentar um filme que acabei de ver com um ano de atraso: Whiplash de Damien Chazelle.

O Whiplash é um filme genuinamente sobre masculinidade como há muito tempo eu não via, talvez o filme mais "masculino" desde o Clube da Luta.

Todo o desenvolvimento do personagem Andrew Neyman é um rito da masculinização. O jovem tímido e filhinho do papai, que tem medo até mesmo de fazer contato olho a olho vai, progressivamente, aprendendo o valor da atitude, da agressividade e do confronto (chegando até mesmo ter uma luta corporal com o seu tutor). Ele aprende o valor e o significado libertador de tomar as rédeas e conduzir a própria vida (como conduz a banda no final do filme).

O seu professor, Terence Fletcher, um homem musculoso e de formato fálico, através de humilhações e postura militar, conduz seus alunos (incluindo Andrew) a superar seus limites.


Num mundo cada vez mais propenso a se livrar da culpa, pendendo cada vez mais a sessões de psicanálise e o conforto de desculpas convenientes, a postura de Fletcher em Whiplash é um verdadeiro soco no estômago. O filme simboliza um refúgio e um lócus propício para a construção da masculinidade. Um antídoto para a "sensibilidade" e "feminilização" excessiva do homem, apresentando aspectos há muito esquecidos de competição, violência, combate, rituais de treinamento, exaustão física (e espiritual), sacrifício, disciplina, desafio, provocação e controle absoluto de si e das técnicas. Onde o corpo se transforma em expressão de signos de atributos ideais e de perfeição.

Terence Fletcher dá uma ótima explicação para o sumiço repentino de gênios como Buddy Rich, não exigimos e temos a aversão a perfectibilidade.


Whiplash é muito mais do que um filme sobre Jazz. É um filme sobre homens. Nota 11.
Para finalizar o artigo, um solo de bateria de Buddy Rich, de uma época onde se tocava Jazz como homens.


Há um ótimo vídeo sobre masculinidade do Padre Paulo Ricardo. Vale muito a pena assistir: