sábado, 7 de novembro de 2015

Litle Walter - Uma Lenda da Gaita

Little Walter

Nascido em Lousiana Marion Walter Jacobs, conhecido como Litle Walter, foi um importantíssimo gaitista de Blues.
No livro "Blues with a Feeling: The Little Walter Story", escrito pelo gaitista e crítico músical Tony Glover, por Scott Driks e por Ward Gaines, Little Walter é comparado a Jimmy Hendrix e Charlie Parker tanto pelo impacto que teve nas gerações sucessoras quanto seu estilo distintivo e inovador no instrumento, trazendo uma gaita totalmente distorcida.
Sua carreira musical começa aos 12 anos, quando ele sai da escola e a vida rural de Louisiana e viaja pela região de Nova Orleans, Memphis, Helena, Arkansas e St, Louis trabalhando como mascate e tocando nas ruas por moedas.
Além de tocar gaita Walter tocava guitarra e foi em Chicago, em 1945, que ele encontrou trabalho como guitarrista base da banda de Floyd Jones, um importante guitarrista da primeira geração de guitarristas de Chicago depois da Segunda Guerra Mundial.
No entanto, seu grande talento mesmo era na gaita.
O estilo peculiar de Walters nasce de uma superação de um frustração nessa experiência. Como se sentia inferiorizado por ter sua gaita abafada pelo som das guitarras elétricas ele adotou um método simples, mas pouco usado anteriormente, de segurar com as mãos em forma de concha um pequeno microfone junto com a gaita e plugou esse microfone em um amplificador de guitarra.

Se você ouvir Sad Hours vai ver que o som da gaita de Little Walter quase lembra uma guitarra elétrica:



Foi essa maneira que ele conseguiu competir com o volume de qualquer guitarrista.
Sonny Boy Williamson e Snooky Pryor também utilizavam isso na época mas foi Little Walter foi o primeiro a usar distorção elétrica de propósito e não apenas para aumentar o volume do instrumento.

Para conhecer mais essa lenda o excelente canal Jazz and Blues Experience postou recentemente uma coletânea de 45 minutos com 15 ótimas músicas. Vale a pena conferir e assinar o canal também.

sábado, 22 de agosto de 2015

Money Jungle (Duke Ellignton, Charles Mingus e Max Roach, 1963)



Money Jungle é um disco do grande pianista Duke Ellington com o baixista Charles Mingus e o baterista Max Roach.

Foi gravado em 17 de Setembro de 1962 e lançado em Fevereiro de 1963 pela United Artists Jazz.

Logo depois do lançamento o disco foi soterrado por boas críticas na época e as únicas poucas críticas negativas giravam em torno da diferença de estilo entre os 3 cavaleiros, muito justificada pelo conflito de geração que havia entre eles. Duke Ellington tinha 63 anos na época enquanto Mingus tinha 40 e Roach 38 anos, um hiato de 20 anos de diferença.

Problemas geracionais à parte, o qual não é nenhum demérito - as poucas críticas negativas estavam notavelmente erradas, milhares de músicos foram influenciados por esse disco, particularmente pela ideia de liberdade de expressão individual que permeava o disco, muito pela ideia do Post-Bop, uma subcategoria do Jazz que foi popular nos anos 60. O Post-Bop é, segundo o musicólogo Jeremy Yudkin, algo entre o Bop e o new Jazz e se caracteriza pela maior liberdade e certa independência rítima entre os músicos durante as sessões.

Entre os músicos que foram influenciados pelo disco temos Lafayette Gilchrist, Jeff "Tain" Watts, Keith Jarrett, Wayne Shorter, Fred Hersch, Matthew Shipp e John Medeski. Músicos de diferentes matizes.

O disco foi premiado na categoria Top Swinging Discs da Jazz Magazine of France em 4 de Abril de 1964. Recebeu 5 estrelas na revista Down Beat de Março de 1963 e críticas altamente positivas na Billboard em 9 de Fevereiro de 1963. A The Penguin Guide to Jazz, uma enciclopédica obra de referência especializada em Jazz, compilada por Richard Cook e Brian Morton, faz grandes elogios ao disco, especialemnte a Charles Mingus que, segundo o guia, "rouba o show".

A ideia do disco partiu de Duke Ellington, que queria fazer um disco com base de piano. Essa ideia foi desenvolvida junto ao produtor da United Artists, Alan Douglas, o qual recebeu uma visita do próprio Ellington em sua casa.
A entrada de Charles Mingus no disco é sugestão de Alan Douglas e Max Roach veio por indicação de Mingus.
Antes disso os músicos não tinham trabalhado em nada juntos. Mingus apenas tocou em uma orquestra de Ellington em 1953, substituindo o baixista oficial. No entanto, Mingus acaba ficando apenas 4 dias junto a orquestra. Mingus, de temperamento forte, acaba brigando com outro músico, o trombonista Juan Tizol e sendo expulso.
Apesar de não tocarem juntos antes o compromisso dos músicos com o trabalho se revela em alguns relatos interessantes. As gravações começaram em uma Segunda-Feira, dia 17 de Setembro de 1962, na Sound Makers em Nova York. A sessão estava marcada para as 13:00. Max Roach chega ao local 12:00 para preparar sua batria e encontra Ellington escrevendo o material.
Há rumores persistentes de confrontos entre os músicos durante a sessão. Especialmente entre Mingus e o baterista Max Roach (que ele mesmo tinha indicado). Conta-se que Mingus uma vez deixou o estúdio no meio da sessão e foi para rua, nervoso, carregando seu baixo. Duke Ellington saiu atrás dele e convenceu-o a retornar.

O disco original tem 7 faixas, 6 compostas por Duke Ellington e uma, Caravan, composta por Juan Tizol (o mesmo que Charles tinha brigado).

A ordem das músicas no disco original e depois nas versões em CD são diferentes.

Seguindo a ordem do disco temos a música Money Jungle como primeira faixa.

Segundo o crítico Thomas Cunnife é importante ouvir as faixas desse disco na ordem em que foram gravadas pois, segundo ele, você consegue ouvir a "tensão sendo construída" entre os músicos, gradativamente. O caso em que Mingus deixa o set acontece, provavelmente, depois dele tocar Money Jungle, que "representa o ápice da tensão interna do grupo, com Mingus arrancando as cordas com as unhas".
Money Jungle abre com fortes notas tocadas por Mingus, enquanto Ellington se junta aos acordes dissonantes. Roach sustenta a música usando os pratos de condução, a caixa e o bumbo. Nos minutos finais da música, a revista Down Beat fez uma observação interessante sobre Mingus, dizendo que ele ataca as cordas com tanta força que faz o som do instrumento parecer algo entre um berimbau e uma guitarra.
Na segunda música, Fleurette Africaine, Charles Mingus impressiona. É uma balada com uma bela base simples de piano, uma percurssão bastante discreta de Roach e uma linha de baixo que parece imitar o bater de asas de uma vespa.
Very Special, a terceira música do disco (e a primeira nas versões em CD), é um Blues improvisado.
Essas três músicas, juntamente com Wing Wise, foram compostas especialmente para o disco.
Em Caravan, música de Juan Tizon, vemos que Ellington toca de uma forma a imitar um som mais orquestral, segundo pesquisas pessoais, utilizando um estilo "Anton Webern" e tocando a melodia em oitavas mais baixas e graves.
Warm Valley e Solitude são baladas onde podemos notar toda química dos músicos concentrados em sua singularidade.

As versões em CD tem mais quatro composições: Switch Blade, Backward Country Boy Blues, REM Blues e A Litlle Max (Parfait); essa última se destaca bastante o baterista Max Roach, que traz uma influência latina interessante na música, enquanto que Switch Blade é um Blues que mostra toda virtuose de Mingus.
Backward Country Boy Blues e REM Blues mostram mais o que os três mosqueteiros podem fazer juntos e Ellington se destaca bastante nelas.

Money Jungle é um disco marcado por caos, tensão e o conflito entre três indivíduos que dissonavam tanto em idade quanto em gênio. Mas que, por algum motivo mágico, acabaram encontrando uma química interna e produzindo um dos discos mais interessantes do Jazz. Nota 10.

Dá para ouvir o disco inteiro aqui:


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A Great Day in Harlem - A foto mais icônica da história do Jazz

A Great Day in Harlem ou Harlem 1958 é um retrato em preto e branco de 57 notáveis ​músicos ​do jazz fotografados na frente de um triplex em Harlem, em Nova York. A foto tem-se mantido um objeto importante no estudo da história do jazz.

Art Kane, um fotógrafo freelance que trabalhava para a Esquire Magazine, tirou a foto em torno 10:00 em 12 de agosto, no verão de 1958. Os músicos se reuniram na 17 East 126th Street, entre a Fifth e Madison Avenues em Harlem.

A Esquire Magazine publicou a foto em sua edição de Janeiro de 1959.

Jean Bach , produtor de rádio de Nova York, contou a história por trás dessa foto em seu documentário de "A Great Day in Harlem", lançado em 1994. O filme foi indicado em 1995 para um Oscar de documentário .

A partir de janeiro 2015, apenas dois dos 57 músicos que participaram ainda estão vivos (Benny Golson e Sonny Rollins).



Presentes na foto: Red Allen, Buster Bailey, Count Basie, Emmett Berry, Art Blakey, Lawrence Brown, Scoville Browne, Buck Clayton, Bill Crump, Vic Dickenson, Roy Eldridge, Art Farmer, Bud Freeman, Dizzy Gillespie, Tyree Glenn, Benny Golson, Sonny Greer, Johnny Griffin, Gigi Gryce ,Coleman Hawkins, J.C. Heard, Jay C. Higginbotham, Milt Hinton, Chubby Jackson, Hilton Jefferson, Osie Johnson, Hank Jones, Jo Jones, Jimmy Jones, Taft Jordan, Max Kaminsky, Gene Krupa, Eddie Locke,Marian McPartland, Charles Mingus, Miff Mole, Thelonious Monk, Gerry Mulligan, Oscar Pettiford, Rudy Powell, Luckey Roberts, Sonny Rollins, Jimmy Rushing, Pee Wee Russell, Sahib Shihab, Horace Silver, Zutty Singleton, Stuff Smith, Rex Stewart, Maxine Sullivan,Joe Thomas, Wilbur Ware, Dickie Wells, George Wettling, Ernie Wilkins, Mary Lou Williams e Lester Young

domingo, 9 de agosto de 2015

Uma pausa para falar do filme Whiplash


Farei uma pausa para comentar um filme que acabei de ver com um ano de atraso: Whiplash de Damien Chazelle.

O Whiplash é um filme genuinamente sobre masculinidade como há muito tempo eu não via, talvez o filme mais "masculino" desde o Clube da Luta.

Todo o desenvolvimento do personagem Andrew Neyman é um rito da masculinização. O jovem tímido e filhinho do papai, que tem medo até mesmo de fazer contato olho a olho vai, progressivamente, aprendendo o valor da atitude, da agressividade e do confronto (chegando até mesmo ter uma luta corporal com o seu tutor). Ele aprende o valor e o significado libertador de tomar as rédeas e conduzir a própria vida (como conduz a banda no final do filme).

O seu professor, Terence Fletcher, um homem musculoso e de formato fálico, através de humilhações e postura militar, conduz seus alunos (incluindo Andrew) a superar seus limites.


Num mundo cada vez mais propenso a se livrar da culpa, pendendo cada vez mais a sessões de psicanálise e o conforto de desculpas convenientes, a postura de Fletcher em Whiplash é um verdadeiro soco no estômago. O filme simboliza um refúgio e um lócus propício para a construção da masculinidade. Um antídoto para a "sensibilidade" e "feminilização" excessiva do homem, apresentando aspectos há muito esquecidos de competição, violência, combate, rituais de treinamento, exaustão física (e espiritual), sacrifício, disciplina, desafio, provocação e controle absoluto de si e das técnicas. Onde o corpo se transforma em expressão de signos de atributos ideais e de perfeição.

Terence Fletcher dá uma ótima explicação para o sumiço repentino de gênios como Buddy Rich, não exigimos e temos a aversão a perfectibilidade.


Whiplash é muito mais do que um filme sobre Jazz. É um filme sobre homens. Nota 11.
Para finalizar o artigo, um solo de bateria de Buddy Rich, de uma época onde se tocava Jazz como homens.


Há um ótimo vídeo sobre masculinidade do Padre Paulo Ricardo. Vale muito a pena assistir:




domingo, 26 de julho de 2015

Relato de campo: Flávio Guimarães e Netto Rockfeller no SESC


Hoje eu fui ver uma apresentação de Flávio Guimarães e Netto Rockfeller no SESC em Campinas.
Bem, Flávio Guimarães já é lobo velho. O cara está no ramo do Blues há mais de 30 ou 40 anos e é um dos pioneiros no Brasil com sua banda "Blues Etílicos".
Junto com o guitarrista Netto Rockefeller ele está lançando o disco Nice and Easy, que infelizmente estava sem dinheiro na hora para comprar (mas eu vou).

A apresentação caminhou entre o Blues, passou pelo Rockabilly, chegou a Surf Music e voltou ao Blues de forma muito agradável.




Boa notícia: O SESC estava lotado e provavelmente o Blues voltará a ser programação corrente lá.

Site de Flávio Guimarães
http://www.flavioguimaraes.com.br/



sábado, 11 de julho de 2015

Robert Cray - Um som norte-americano por excelência


Vamos apresentar Robert Cray.

Nascido em Columbos, na Geórgia (EUA), ele é considerado um expoente da nova safra de artistas do Blues. Considerado "um dos maiores guitarristas dessa geração" segundo a Rolling Stone (Abril de 2011). Já foi ganhador de uns 5 Grammys e indicado umas 15 vezes.
Vendeu milhões de discos e milhares de shows ao redor do mundo.
Foi introduzido no Blues Hall of Fame em 2011 com 57 anos. Considerado uma das mais jovens lendas que recebeu esse prestígio e honra.
Suas músicas já foram regravadas por Eric Clapton e, inclusive, seu ídolo Albert Collins.
Já fez performances memoráveis junto com Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan, Bonnie Raitt e John Lee Hooker.

Essa carta de apresentação é o suficiente?

Influenciado pelos Beatles no começo mas resolveu se enveredar para o Blues quando descobriu Albert Collins, Robert Cray reinventou o Blues com sua forma peculiar de tocar guitarra que introduziu a nova geração, especialmente fãs de Rock, a linguagem e ao formato do Blues.

Quando quisermos citar um artista que resume em si quase toda a cultura americana, em termos de música, podemos citar sem medo Robert Cray.

Seu som mistura o tradicional Rock americano, Soul, Jazz, Gospel, Funk e R&B e tem uma fundação no Blues. Uma verdadeira  miscelânea americana.

Sua guitarra é influenciada por George Harrison, Jimmy Hendrix, Albert Collins, Buddy Guy e B.B. King e seus vocal influenciado por gente como O.V. Wright e Bobby Blue Bland.

Alguns shows completos dele no Youtube

Robert Cray - Montreux Jazz Festival 2008


Robert Cray 2005 07 04 Montreux Jazz Proshot





sábado, 6 de junho de 2015

Coletânea Miles Davis (Blue Note) - Modern Jazz Series

Para quem quer conhecer a obra de Miles Davis mais profundamente e não sabe por onde começar eu recomendo a coletânea feita pela gravadora Blue Note saída em três volumes.
Trata-se das primeiras gravações de Miles Davis entre os anos 1952 e 1954. Gravações fundamentais para o Hard Bop, que iria influenciar (e muito) a moderna música mainstream da década de 1960.
As gravações compreendem um apanhado geral da sua carreira, nessa época, em músicas variadas, das mais lentas e relaxadas as mais aceleradas e dançantes (algumas músicas até com takes alternativos).
A importância de compilações como essa é histórica, como disse o crítico de música Scott Yannon. Todo esse período inicial de Miles Davis tende a ser esquecido, tanto por causa de seu estilo de vida errático quanto por ser o período que antecedeu seu primeiro quinteto clássico.


Vol.1

As músicas do disco seguem uma sequência cronológica.

Músicas gravadas em 9 de Maio de 1952:
Sexteto: Miles Davis (trompete), J. J. Johnson (trombone), Jackie McLean (sax alto), Gil Coggins (piano), Oscar Pettiford (baixo) e Kenny Clarke (bateria).

O disco abre com Dear Old Stockholm. Trata-se de um dos temas mais interessantes já gravados por Miles, suave e memorável. A segunda faixa é Chance It, do baixista Oscar Pettiford. Uma música mais acelerada, com performances individuais e solos bem interessantes. A terceira faixa é Donna (ou Dig), de Jackie McLean (ou de Miles Davis, há uma discussão), uma Jazz Standard, onde vemos novamente o time de sopros fazer suas ótimas performances individuais em torno do tema principal da música. A quarta faixa é Woody 'n' You de Dizzy Gillespie, outra Jazz Standard com, novamente, ótimas partes de sopro e um belo solo de baixo de Oscar Pettiford. A quinta faixa é Yesterdays, uma música mais lenta e melancólica. É uma das minhas preferidas do disco, foi composta por Jerome Kern e Otto Harbach em 1933, um exemplo de música americana de altíssimo nível.
Para quem gosta de musicas mais lentas eu recomendo uma outra coletânea, Ballads and Blues.
How Deep is the Ocean? é a sexta faixa do disco. Assim como a Yesterdays, uma belíssima balada e também uma das minhas preferidas do disco. A música é de Irving Berlin.

As três faixas seguintes são versões alternativas de Chance It, Donna e Woody 'n' You.

Músicas gravadas em 6 de Março de 1954:
Depois das três versões alternativas das Jazz Standards de Maio de 1952. O disco segue com canções gravadas 2 anos depois. O sexteto agora tem a seguinte formação: Miles Davis (trompete), J. J. Johnson (trombone), Jimmy Heath (sax tenor), Gil Coggins (piano), Percy Heath (baixo) e Art Blakey (bateria).

Sendo assim, a décima faixa é Take Off, de Miles Davis. Uma música mais acelerada, como Chance It, com uma interessante base de piano. A décima primeira faixa é Lazy Suzan, também de Miles Davis; há uma ótima execução de piano de Gil Coggins e uma excelente levada de Blakey na bateria.
A décima segunda faixa é The Leap, de Miles Davis; também com um andamento acelerado, uma das mais impressionantes performances individuais de trompete de Miles. A décima terceira faixa é Well, You Needn't, de Thelonious Monk; a música tem um fraseado de piano maravilhoso, um dos grandes destaques do disco. Voltando as composições de Miles Davis, a décima quarta faixa é a excelente Weirdo. A última música é It Never Entered My Mind; ima belíssima balada de Richard Rodgers e Lorenz Hart.


Vol.2

Consideraremos aqui a ordem feita por Rudy Van Gelder que lançou o CD remasterizado em 2001. A segunda parte dessa essencial coletânea contem gravações de 20 de Abril de 1953 da Blue Note. Assim como no Volume 1 este apresenta as músicas na ordem em que foram gravadas.

Esse ano de 1953 foi especial na carreira de Miles Davis, fazer uma coletânea com músicas gravadas apenas em 1 ano nos mostra um pouco a dimensão desse vulcão criativo que ele (e seu time) era.
Temos a união de grandes compositores (J.J. Johnson, Ray Brown, Bud Powell, Jimmy Heath, Walter Fuller, e Dizzy Gillespie, que assinam as músicas tocadas ao longo do disco) com uma memorável sessão rítimica (com o baterista Art Blakey, o baixista Percy Heath e o obscuro pianista Gil Goggins). A linha de frente é muito bem representada por Miles Davis no trompete, o trombonista J.J. Johnson e Jimmy Heath no sax tenor. Esse time dá a cada melodia o peso e a textura de uma Big Band.
Podemos dizer que esse disco resume o Jazz. A união entre Miles e Blakey gerou músicas com influências de rítimos afro-cubanos, o blues norte-americano, o fraseado bop ou seja "is what jazz is all 'fucking' about".

As duas primeiras músicas, Kelo e Enigima, são músicas do trombonista J.J. Johnson e procedem da tradição orquestral de Birth of the Cool, que vai combinar o contraste do trombone aveludado de J.J. com o polido, entrecortado, estridente e choroso trompete de Miles Davis. Temos em seguida Ray's Idea de Gil Fuller e Ray Brown acompanhada de Tempus Fugit de Bud Powell e C.T.A., uma composição do sax tenor Jimmy Heath. Ray's Idea e C.T.A. são músicas mais swingadas e Tempus Fugit é um clássico inquestionável, seus solos e arranjos foram definidos como "transcendentais" pelo crítico da Allmusic Rovi Staff. Em seguida temos I Waited for You, uma das baladas mais charmosas de Miles Davis.
As faixas seguintes são versões alternativas de Kelo, Enigma, Ray's Idea, Tempus Fugit e C.T.A.


Considerações sobre o "Vol.3"

Essa coletânea quando saiu para LP tinha 3 volumes, mas se você tem o volume 1 em CD o volume 3 está todo contido nele. O LP de 10'' original foi descontinuado.
As faixas são Lady Suzan, The Leap, Weirdo, Well You Needn't e It Never Entered My Mind, ou seja, as músicas gravas em 1954.

Resumindo:
Apesar da ordem confusa ordem do CD, com o primeiro volume com músicas de 1952 e 1954 (incluindo músicas do volume 3, que foi descontinuado) e o segundo volume apenas com músicas de 1953 o que vale é a experiência da audição.




domingo, 19 de abril de 2015

Miles Davis vs. Thelonious Monk (1954)



Em 1954 Miles Davis se junta ao lendário pianista Thelonious Monk e lançam esse EP.
Uma curiosidade, Thelonious e Miles nunca se deram muito bem e surgiu até mesmo um boato que ambos tivessem brigado ao ponto de se agredirem fisicamente, boato que foi desmentido posteriormente por Ira Gitler, um jornalista especializado em música e que acompanhou as gravações.

Fofocas à parte o disco é sensacional. A primeira e a segunda faixa do disco se chama Bag's Groove; a primeira vez tocada numa sessão de 11 minutos e 25 segundos e a outra versão tocada numa sessão de 9 minutos e 24 segundos. Ambas as versões foram gravadas na véspera de Natal do ano de 1954. A primeira versão esteve presente no disco Miles Davis All Stars, Volume 1 e estariam, ambas, também no LP Bag's Groove, lançado no mesmo ano.

Bags era o cognome do vibrafonista Mitt Jackson, que faz uma performance sensacional nessa música. Talvez tão grandiosa quanto a de Miles e Thelonious.

A próxima música, Bemsha Swing, é uma composição de Thelonious Monk e do percursionista Denzil Best (que não está tocando neste disco e sim Kenny Clarke). Ela foi gravada a primeira vez para o Thelonious Monk Trio em 1952. Outra vez o vibrafonista Mitt Jackson se destaca tanto quanto as estrelas do disco.

A próxima faixa é Swing Spring, uma composição de Miles Davis, com grande performance de Thelonious e, novamente, Mitt.

As duas faixas seguintes é The Man I Love, uma composição de George Gershwin e Ira Gershwin. A primeira, uma versão de 10 minutos e 45 segundos e, a segunda, uma versão de 8 minutos e 8 segundos.  Uma música que começa mais lenta, mais voltada para um Blues, de melodia suave e envolvente que depois segue em uma performance mais acelerada, Mitt novamente "mita". Certamente uma das (duas) melhores faixas do disco.

Walkin' Walkin' segue honrando o excelente nível, uma faixa de 13 minutos bem variadas, lembrando um Jazz mais clássico, das Big Bands.

E Blue 'n' Boogie fecha com chave de ouro, com um Jazz super acelerado, dançante. Uma linha de composição que se tornou típica em Miles Davis.